7.05.2006

Turismo Rural

Trata-se de um desporto nacional que antes se chamava "ir à terra".
A diferença é que se fores à tua terra, vais de borla, e se fizeres turismo rural vais a uma terra que não é a tua e pagas uma pipa de massa.
Para fazer turismo rural não serve qualquer terra. Tem de ser uma terra "com encanto". E o que é uma terra "com encanto"? Obviamente, é uma terra que está num guia de terras "com encanto". Está-se mesmo a ver.
A estas terras chega-se normalmente por uma estrada municipal "com encanto", que é uma estrada com tantos buracos e tantas curvas que quando chegas à terra estás mortinho para sair do carro.
E quando entras no café tentas integrar-te com os vizinhos.
- Bom dia, compadres! O que é que é típico daqui?
E o gajo do café pensa: "Aqui o típico é que venham os artolas da cidade ao fim-de-semana gastar duzentos contos".
A seguir, ficas instalado numa casa rural ou "casa com encanto", que é uma casa decorada com muitos vasinhos e réstias de alhos penduradas do tecto, que não tem televisão, nem rádio, nem microondas. Em contrapartida, tem uns cabrões de uns mosquitos que à noite fazem mais barulho que uma Famel Zundapp.
Depois apercebes-te que os da terra vivem numas casas que não têm encanto nenhum, mas têm jacuzzi, parabólica, Internet e video-porteiro. A tua casa não tem video-porteiro, mas tem uma chave que pesa meio quilo.
Outra vantagem de fazer turismo rural é que podes escolher entre uma casa vazia ou ir viver com os donos da casa. Fantástico. Vais de férias e, além da tua, ainda tens de aguentar uma família postiça. Que à noite queres ver o filme, eles os documentários e tu perguntas-te: "Quem é que manda mais? Eu, que paguei 600 euros ou este senhor que vive aqui?"
Ganha ele, que tem um cacete.
Ainda por cima, dizem-te que tens "a possibilidade de te integrares nos trabalhos do campo". O que quer dizer que te acordam às cinco da manhã para ordenhar uma vaca.
Não te lixa? É como ires à bomba da gasolina e teres de pôr tu a gasolina, ou como ires ao McDonalds e teres de arrumar o tabuleiro.
Ou seja, o normal.
Então, levantas-te às cinco para ordenhar as vacas. E digo eu: porque raio é que é preciso ordenhar as vacas tão cedo? O leite está lá! Não se podem ordenhar depois do pequeno-almoço? Eu acho que isto é só para chatear, porque a vaca deve ficar muita contente por a acordarem às cinco da manhã para um estranho lhe vir mexer nas mamas.
A vaca olha para ti como se dissesse: "Ouve lá, pá! Se queres leite vai ao frigorífico e abre um pacote!" É que é mesmo só para chatear.
Mas o "encanto" definitivo são "as actividades ao ar livre".
Como quando te põem a fazer caminhada, que é aquilo a que normalmente se chama andar, e consiste, exactamente, em por um pé em frente ao outro até não poderes mais, enquanto os da terra vão num jipe com ar condicionado.
Mas tu feliz da vida. Vais pelo campo atordoado. Tornas-te bucólico e tudo te parece impressionante: vês uma vaca e dizes: "Ummmmm, que cheirinho a campo". A campo não, a cocó.
Mas, isso sim, é o cocó "com encanto".
E tudo, seja o que for, te sabe maravilhosamente: na mesa pespegam-te dois ovos estrelados com chouriço e tu na cidade não comes estes ovos, nem estes chouriços.
E perguntas ao empregado?
- Este chouriço é da matança?
- Quase, porque ia morrendo ali na curva o gajo do camião da Izidoro.
De repente, ouves umas badaladas e dizes:
- Ah! Que paz! Não há nada como o som de um sino.
E o gajo do café diz-te:
- É gravado. Não vê o altifalante no campanário?
Nesse momento, perguntas-te se os ruídos das galinhas e dos grilos não estarão num CD: "RuralMix2005", "Os 101 Maiores Êxitos Campestres". A única coisa de que tens a certeza é que os cabrões dos mosquitos são verdadeiros.
Pareces um Ferrero Rocher com varicela.
Eu acho que, de segunda a sexta, as pessoas destas terras vivem como toda a gente, mas ao fim-de-semana espalham pela estrada uns tipos mascarados de pastores e quando veêm que se aproxima um carro, avisam os da terra pelo telemóvel: "Hey, vêm aí os do turismo rural!" E mudam o cartaz de "Videoclube" pelo de "Tasca", soltam uns cães soltos pelas ruas e sentam na entrada na terra dois avôzinhos a fazer sapatos, que depois tu compras uns e saem-te mais caros que uns Nike.
Enfim, acho que uma montagem tão grande como esta não pode ser obra de pessoas isoladas. Tenho a certeza de estão implicadas as autoridades.
Imagino o Presidente da Câmara: - "Queridos conterrâneos: este Verão, para aumentar o turismo, vamos importar mais mosquitos do Amazonas, que no ano passado tiveram imenso êxito. E quero ver toda a gente com boina, nada de bonés de pala da Marlboro. E façam o favor de pintar o espaço entre as sobrancelhas, que assim não parecem da província! E as avós: nada de topless na ribeira, que espantam os mosquitos!
E só mais uma coisa: este ano não é preciso ninguém fazer de maluquinho da terra, que com os que vêm de fora já chega!

Isto é impressionante, mais um texto gamado (passado por mail lá no emprego), parece q n tenho ideias próprias n é?...Thanks Ricardo Pessoa

2 comentários:

No plans disse...

E eu a pensar que te ia dar os parabéns pelo texto, mas afinal...havia outro.

Em relação ao turismo rural, infelizmente é um pouco assim. Começo a achar que as coisas nunca são como anunciam. Eu também já tive uma experiência negativa. Também convencido de que seria porreiro ir a uma terriola, alugar uma casa de campo, acender uma lareira e no dia seguinte dar um passeio pela paisagem, meti-me numa cena dessas, e lixei-me. Como? É um pouco como o texto, andas muitos quilometros, meio perdido, apesar de estares em Portugal, a guiar à noite, numa dessas estradas municipais. O problema foi com a casa. Cheguei lá de noite, pedi as chaves da casa e quando entrei, parecia-me acolhedora, com os tachos e panelas tipicos, com uma salamandra(não o bicho, mas aquela cena que dá calor), um sofá, uma tv e depois descias umas escadinhas e estavas no quarto. Tudo muito bem.
O problema foi quando a salamandra começou realmente a aquecer a casa. Aí entrei no filme aracnofobia, aranhas do campo, que são do triplo do tamanho das aranhas da cidade, a trepar as paredes da casa. Enfim, terror absoluto para quem é da cidade como eu...resultado, andei tipo caça-fantasmas, com o aspirador às costas, a sugá-las...Ok, pensei eu, ta resolvido, vou passar uma noite tranquila, ainda completamente aterrorizado (ah, esqueci-me de dizer, como muitos jovens que viram o aracnofobia quando eram mais novos, fiquei com medo de aranhas), mas o que pensei, nunca iria acontecer. Vou-me preparar para deitar, vou à casa de banho, e dentro dum pote de barro, que embelezava o wc, estava um bezouro. Mas depois das aranhas, o bezouro não era nada. Fui pa cama, preparado para descansar da viagem e do ataque das aranhas, quando levantei os lençois, reparo que a cama estava cheia de vidros. Como é possível? O casal anterior deve ter dado uma queca num candeeiro ou enfiado a pila num copo, ou enfiado o copo noutro sítio...
Chamei a responsável da casa, contei-lhe tudo o que tinha acontecido, pedi para mudar de casa, pedi para me devolver o dinheiro e a caseira recusou tudo. Ou era aquela casa ou nada. Resultado, vim dormir ao Ibis, que é na cidade...Moral da história, Portugal perdeu o mundial e eu não quero ficar mais em baixo...podem tirar as conclusões que quiserem.

Spike Spiegel disse...

só me apraz dizer uma coisa...LOL