More than meets the eye!

Se há carro que poderia ser um transformer, o meu seria um!

O meu carro tem mais simbolismo do que aparenta. Afinal de contas, foram quase 9 anos a viver comigo, 9 anos de muita coisa...e ainda bem que ele não fala!

Mas antes, vou contextualizar históricamente.

Estavamos em Janeiro de 2001, e tinha finalmente começado a receber pelo meu trabalho. Não era muito mas era bom e certinho, como a minha mãe diz. 550 euros, por mês, para registar, carimbar e colocar anti-furtos nos livros. Ah, já agora, também fazia gestão dos utilizadores, backup de dados e manutenção do sistema informático da biblioteca, além do atendimento ao público e de elaboração de material multimedia.

Na altura, namorava com a Sofia, namorada ciumenta e possessiva que tinha. Além disso, tinha uma guerra em casa por causa da minha liberdade e da minha independência em relação aos meus pais. Como namorar implica sobretudo ter um lugar para estar com a pessoa que gostamos, os unicos lugares que tinha para isso eram os cinemas, restaurantes ou paragens de autocarro e à noite não havia nada para ninguém, porque eu recusava-me a pedir o carro ao meu pai, pois como já referi, nesta guerra pela independência, o orgulho tem de estar intacto.

Mediante essas opções e pelo facto de já ter um ordenado, a solução estava encontrada. Um carro! Um carro é que era! Permitiria ir onde quisesse, às horas que quisesse sem dar cavaco a ninguém, já para não falar do confortável banco traseiro que o carro tem :)

Assim, comecei a poupar, não muito porque o ordenado era pouco, mas sempre com intenção de comprar carro o mais depressa possível. Já tinha encontrado os candidatos ( Renault Clio dourado, Fiat Punto azul bébé, Toyota Yaris prateado ou VW Polo preto). Como o pai da Sofia tinha um VW, ela aconselhou-me um.

E assim foi, em Abril, desloquei-me a Leça e fiz o negócio nesse mesmo dia. Dava uma entrada de 250 contos!!! e fiquei a pagar 250 euros por mês, durante 4 anos. E assim foi, dia 24 de Abril, fui buscar o meu carro, o meu VW Polo, pretinho e a primeira contemplada a passear nele, foi a minha mãe, curiosamente!

Estava dado um grande passo rumo à liberdade, mas também a outros horizontes. As mulheres foram entrando e saindo, muitas pessoas andaram nele. Acidentes também os houve! Tive logo um, que ainda hoje guarda recordações dele, que diga a chapa amassada por cima da roda direita. Não tinha dinheiro para pagar o conserto, assim ficou. E outros toques, aliás, os toques que o carro levou foram sempre com pessoas conhecidas!

"Ah Dani, és tu, desculpa lá, não te vi. Beijinhoooo!!"
É escusado de dizer que foram gajas que me bateram! Sempre fui assim, deixo elas fazerem o que querem...

Além de acidentes, houve sobretudo viagens. Viagens essas, que tiveram como destino Vila Praia de Ancora, onde ia ter com o David, para grandes noitadas, Gondomar onde a PESada era jogada e mais recentemente, o rumo a sul. Lembro-me de um sábado ter ido ao Meco só para ir ter tomar um copo e vir! (é excusado dizer que quase adormeci por várias vezes) e nossa viagem a Lisboa, onde vimos aquele defesa italiano, e onde dormimos todos nus, uns com os outros. Mais recentemente, a nossa roadtrip até Madrid, em que ele se portou muito bem!

Escrevo isto, porque é uma espécie de tributo que faço ao meu carro. Um tributo às pessoas, aos destinos, a tudo que se passou dentro de quatro portas e que me fez ser a pessoa que sou hoje. Por isso, valorizo tudo o que aconteceu nesses ultimos 9 anos, ao volante do meu transformer!